O fundamento da Abordagem Centrada na Pessoa*

A psicoterapia da Abordagem Centrada na Pessoa é fundamentada na hipótese de que todo ser humano tem dentro de si mesmo todos os recursos necessários para o auto-entendimento e para mudar conceitos, atitudes e comportamentos, e que o acesso a esses recursos pode ser facilitado através da interação com outro ser humano que ofereça autenticidade, aceitação incondicional e empatia.

Autenticidade significa ser verdadeiramente si mesmo e ser congruente com as próprias ideias e conceitos na relação com a outra pessoa. É ser explicito aos sentimentos que surgem na relação com o outro de modo a colaborar com um melhor entendimento desse outro a respeito de si mesmo e da sua vida, emprestando sensações e sentimentos. Nessa hipótese, compartilhar com a pessoa sentimentos e sensações verdadeiros que ela provoca no sentido de elucidar compreensão colabora com a pessoa no seu processo de mudança e crescimento construtivo. Assim, aquilo que é sentindo nas entranhas do corpo e significado na consciência a partir da interação com outra pessoa é explicitado para colaborar com a pessoa no seu desenvolvimento.

Aceitação incondicional significa cuidar, tratar e querer bem, apreciar, desejar o melhor, gostar, importar-se e interessar-se sem pré-condições, ou seja, da maneira que a outra pessoa se apresenta ou está no momento. É aceitar a outra pessoa mesmo na tristeza, confusão mental, raiva, negatividade ou mesmo maldade. Nessa hipótese, quando alguém é realmente aceito e valorizado pelo outro de forma não condicional, não possessiva e verdadeiramente com ela se apresenta, esse alguém desenvolve seu potencial de ser humano.

Empatia significa tentar compreender a outra pessoa a partir das referências e valores não de si próprio, mas dessa outra pessoa. Significa demonstrar para outra pessoa que é capaz de sentir e compreender de forma precisa a maneira que a própria pessoa sente e compreende a si mesma e as suas circunstâncias. Significa ser capaz de entrar no mundo da outra pessoa, explorar esse mundo e revelar as eventuais descobertas que a própria pessoa ainda não tinha feito. Nessa hipótese, quando revelações são feitas dessa forma ao outro, ele se apropria delas e as utiliza para crescer e se desenvolver mais plenamente.

Segundo Carl Ransom Rogers (1902-1987), considerado um dos estudiosos mais influentes da historia da psicologia estadunidense e fundador dessa abordagem, existe um conjunto vasto e sólido de evidências na pesquisa científica que demonstra que, quando os seres humanos interagem a partir dessas três condições, o crescimento e desenvolvimento humano individual e coletivo é facilitado. Sendo assim, mudanças favoráveis nas personalidades e nos comportamentos podem ocorrer.

* Texto baseado no capítulo 10: A Client-centered/Person-centered Approach to Terapy, do livro The Carl Rogers Reader, Edited by Howard Kirschenbaum and Valerie Land Henderson, Constable, London.

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2 respostas

  1. Bem interessante o texto, causa a mim a impressão que a perspectiva abordada é algo que já penso em fazer ou potencializar, mas sempre falta o mais difícil: sair da teoria ou da prática aleatória e ir além do conforto que a inércia proporciona. Parabéns pelo texto Dr. Rodrigo.

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