A psicoterapia de casal na Abordagem Centrada na Pessoa

Costumo dizer que terapia de casal que eu ofereço não é necessariamente para unir casal, e pode até antecipar a separação que aconteceria talvez mais tarde. Entendo que, independentemente do resultado, a terapia de casal pode valer a pena porque os envolvidos terão melhor condição de ter mais clareza sobre o que fundamentou suas decisões e, assim, deliberações deixam de ser tomadas muito emocionalmente ou no impulso. Seria quase uma questão de responsabilidade e respeito consigo mesmo e com o outro. Considero que o resultado dessa psicoterapia é válido, mesmo que seja inverso ao desejo que motivou a busca de tratamento.

A psicoterapia de casal, no meu entendimento, é basicamente um meio de possibilitar ou ampliar a comunicação do que cada um está entendendo e sentindo em relação à vida e em relação ao outro. Esta psicoterapia visa ampliar as possibilidades de cada um entender, compreender e até conhecer melhor o outro. Objetiva facilitar que cada um seja mais empático com o outro, o que significa compreender atitudes e sentimentos do ponto de vista do outro e não do seu próprio. Costumo dizer que quando isso acontece, as tendências podem ser contrárias, ou seja, aumentar ou diminuir a admiração, a vontade de estar junto e a paixão. Assim, o resultado da psicoterapia pode ser o favorecer tanto da união quanto da separação.

O que acontece, na prática, nas psicoterapias de casais são conversas intermediadas. De modo geral, o mais reclamante do casal tentará, naturalmente, explicar ao psicoterapeuta as razões de suas reclamações. Como o psicoterapeuta não sabe de nada sobre os dois e nem do contexto do casal, a explicação terá que ser bem feita e clara, contextualizando os pontos abordados. E se isso não acontecer, eu, o psicoterapeuta, procuro estimular o par manifestante que faça deste modo, pois só assim poderei compreender o que se passa. E então, o outro par terá escutado aquelas explicações que foram dadas de modo mais didático. Incrivelmente, os casais, apesar de passarem muito tempo juntos, costumam se comunicar pouco ou mal. Pouco, quando não falam muito de si e seus sentimentos, e mal, quando falam agressivamente, carregados de emoções negativas e, consequentemente, de modo muito pouco sensato ou razoável. Assim, geralmente, a comunicação clara e verdadeira entre os pares dos casais costuma ter pouca qualidade. Então, o que eu ofereço como psicoterapia de casal seria a possibilidade de interação de qualidade e assim cada um pode penetrar mais no universo do outro e gostar mais ou não.

A psicoterapia familiar ou de família funciona basicamente igual, diferenciando-se apenas em que há a inclusão de outros atores como filhos, pais, parentes e outras pessoas. A psicoterapia de família pode tratar questões que envolvem grupos maiores de pessoas, com pai, mãe, filhos, e outros como qualquer dupla, como mãe e filha. Em todos os casos, o objetivo da psicoterapia é dar voz para que todos possam explicar com qualidade seus pontos de vistas e sentimentos.

No meu entendimento, na psicoterapia de casal e na de família, o papel do psicoterapeuta não é julgar quem tem ou não tem razão, ou dizer quem ou o que está certo ou errado. O papel do profissional é tentar entender precisamente a situação e respeitar os pontos de vista de cada um, segundo as argumentações apresentadas, mesmo que elas sejam diametralmente opostas. Assim o profissional facilita que cada um interrompa momentaneamente o seu discurso de defesa e ataque e escuta o outro com mais compreensão e respeito. Então, na medida em que haja melhor compreensão, inclusive da discordância, há aumento das possibilidades de acordos que intermedeiem as diferenças. Desse modo seria possível diminuir as sensações de que um é perdedor, explorado, abusado, incompreendido, por exemplo. Entendo que a psicoterapia pode contribuir muito nas relações interpessoais quando promove melhor comunicação através de diálogos verdadeiros com posicionamentos mais autênticos e quando promove maior equilíbrio emocional de todos os integrantes.

A psicoterapia de casal e de família que ofereço coloca-se na perspectiva da “Abordagem Centrada na Pessoa”, conforme foi desenvolvida pelo o seu fundador Carl Rogers, uma vez que objetiva ser um meio para que os participantes desenvolvam capacidade de aceitação incondicional e sejam mais empáticos, autênticos e congruentes. Empáticos, na medida em que passem a ser mais capazes de entender os outros sob as perspectivas deles e não de si próprio. Autênticos e congruentes, mostrando-se como realmente estão ou são e explicitando como se colocam em relação aos outros. Aceitando os outros incondicionalmente, desenvolvendo capacidades de aceitar e valorizar o diferente de si próprio e que não pode ser mudado.

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3 respostas

  1. Muito esclarecedor o seu texto, Rodrigo.Eu gosto muito do seu estilo de escrever. Obrigada por compartilhar o seu conhecimento. Fiquei imaginando que deve ser muito tenso atender casal e família que tenham problemas e diferenças a resolver. Mas eu sei que você com o seu profissionalismo e calma administra a situação com maestria.

  2. Uma benção seu texto,pra mim numa relação edificar o outro. O diálogo sempre necessário para o bom convívio. Divórciada 7 anos, a falta de diálogo contribuiu para o término

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