As psicoterapias

A palavra psicoterapias é usada no plural porque não há apenas um, mas vários tipos de psicoterapia. Talvez possamos dizer que foi a psicanálise, criada por Freud, a primeira modalidade sistematizada da prática de psicoterapia. A psicanálise concebe a vida psíquica como uma evolução incessante de forças elementares, antagônicas, compostas ou resultantes de forma dinâmica. Assim, deve-se considerar que essas forças são investimentos energéticos que se deslocam, de certa forma, com atuações específicas e estruturam os três sistemas que Freud denominou e dividiu topograficamente em Inconsciente, Pré-consciente e Consciente. Com as lentes da psicanálise, as doenças mentais seriam então, pelo menos em parte, resultantes de conflitos de forças psíquicas inconscientes, camufladas e não resolvidas.

Evidentemente, nunca se localizou espacialmente, em termos biológicos, essas forças e as estruturas da teoria de Freud. Entretanto, Freud, ao formular sua teoria sem paralelo no campo físico, conseguiu quebrar o paradigma do atrelamento obrigatório aos fenômenos físicos, observáveis por qualquer um, para se fazer ciência e, assim, abriu a perspectiva de elaboração de um sem número de teorias para a compreensão da subjetividade e dos comportamentos do homem. Essas teorias e consequentes formas de psicoterapias foram e continuam sendo desenvolvidas na tentativa de entender a subjetividade humana e tratar os sofrimentos provocados por ela.

Somente no século XIX as psicoterapias começaram a ser utilizadas como forma de tratamento para o sofrimento mental. No início, as psicoterapias eram utilizadas exclusivamente por médicos, como uma arte da medicina, e isso continuou mesmo depois que outros profissionais passaram a praticá-las. Muitas palavras da terminologia médica foram mantidas, como: doença, paciente e diagnóstico, entre outras. Entretanto, essa terminologia médica, atualmente, não é a mais apropriada para as psicoterapias, uma vez que elas possuem um tipo de relação muito diferente da tradicional relação médico-paciente.

O que chamamos de tratamento psicológico ou de psicoterapia é, na verdade, uma extensa quantidade de modelos diferenciados de psicoterapias. A literatura indica que existe mais de 400 tipos ou modelos diferentes de psicoterapias e, podemos classificar as principais variações das teorias e escolas psicanalíticas, comportamentais, cognitivas, humanistas e existenciais. Essas variedades de escolas e modelos são desdobramentos das filosofias com visões de homem diferentes que abrangem desde a idéia que o homem tem, pelo menos em potencial, capacidade de auto desenvolvimento no sentido da prosperidade e felicidade; que precisa ser cientificamente dirigido e corrigido, pois é passivo de adquirir comportamentos desadaptativo e é vulnerável interpretações errôneas da realidade; e dada a sua natureza selvagem e a dinâmica do inconsciente precisa ser civilizado pela imposição da educação e tratado nas vulnerabilidades inconscientes. Muitos desses modelos se organizam em sociedades científicas. Essas sociedades, geralmente, promovem encontros, congressos e cursos de formação, entre outras atividades que visam promover e divulgar seus modelos. Apesar das grandes divergências entre os modelos de psicoterapias, existe uma base comum ao fazermos uma comparação com o tratamento médico da psiquiátrica. Enquanto que a psiquiátrica tem como base o entendimento que a causa do sofrimento mental e da alteração no comportamento são doenças ou distúrbios de fundo principalmente biológico e físico, as psicoterapias têm como base comum o entendimento que sofrimento mental e alterações comportamentais são resultantes de traumas vivenciais, condicionamentos inapropriados, limitada ou disfuncional compreensão da realidade, problemas nas inter-relações humanas e sociais, entre outros. Outra base comum é que todas as psicoterapias trabalham utilizando a comunicação como ferramenta básica para o tratamento. Assim, enquanto a psiquiátrica procura atuar principalmente no biológico e no físico, através de drogas ou outros meios, as psicoterapias procuram meios de reduzir ou extinguir as seqüelas dos traumas, como descondicionar e recondicionar o individuo e ajudá-lo a interpretar a realidade de forma mais funcional, resolver seus problemas de relacionamento com pessoas, se posicionar melhor frente às questões sociais, entre outros meios semelhantes para promover a saúde mental. Assim e apesar das variedades e de divergências, a principal ferramenta de trabalho das psicoterapias e o que todas elas tem mais em comum é a comunicação e, para tanto, usam de escuta, diálogo, hipnose, representação de vivências, entre outros meios de comunicação, para conduzir o tratamento.

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