O homem, o sofrimento e a psicoterapia

A relação do homem com o sofrimento ou com a possibilidade de sofrer é uma constante tão significativa que começa mesmo antes do seu nascimento e o acompanha como um companheiro fiel até o suspiro final, se não for além. As filosofias são conjuntos de idéias que procuram entender e explicar a realidade e, dentre elas, algumas filosofias se preocupam mais com a importância do sofrimento humano. A filosofia Humanista-Existencial tem a concepção de que o homem está destinado a sofrer a partir da sua condição frágil e mortal. Essa filosofia entende que o homem é essencialmente livre e responsável pelas suas escolhas, então, a consciência de sua finitude e da responsabilidade por sua formação gera angústia no homem. Dessa forma, a angústia está na base estrutural de nossos sentimentos e não há como eliminá-la de nossas vidas.

Cada homem, a sua própria maneira, e a humanidade como um todo desenvolve formas de conceber a si próprio, os outros, a vida e a realidade. Para enfrentar o sofrimento, essa companhia ou perseguição constante mais que desagradável, concepções são formuladas. O homem desenvolve a fé e fórmulas diversas para suportar o sofrimento como crenças no sobrenatural, práticas espirituais e religiões. Além disso, entre outras fórmulas, incluí-se a de ganhar poder e dominação sobre os outros homens, acumular riquezas e esquecer ou aliviar o sofrimento ocupando-se de todo tipo de atividade que gere alienação e anestesia mental. Inclusive, as drogas lícitas e ilícitas e o fanatismo por qualquer coisa têm também essa função. Ainda, entre as fórmulas para aceitar e adaptar melhor a uma dada realidade estão as tentativas de recondicionar a mente humana através de treinamentos, incluindo os terapêuticos, e as drogas medicamentosas. Contudo, parece que essas fórmulas acabam não funcionando bem ou não eliminando o sofrimento por completo.

Por outro lado, a citada filosofia Humanista-Existencial entende que cada homem só realmente supera o sofrimento que lhe é inerente quando assume a responsabilidade de fazer escolhas condizentes com a intimidade de seu ser. Para tanto, naturalmente, ele precisa antes de tudo conhecer a própria intimidade. Todo homem só pode encontrar sentido na vida para si mesmo quando busca e desenvolve critérios e valores próprios em máxima liberdade. Esses critérios e valores, então, só têm força para fazer frente aos sofrimentos que a vida trás quando são desenvolvidos no íntimo individual de cada ser humano.

A Abordagem Centrada na Pessoa, que é uma corrente de pensamento psicológico desenvolvida a partir dos trabalhos do psicólogo americano Carl R. Rogers, comunga muitos preceitos com filosofia Humanista-Existencial. Essa abordagem abriga um modo de psicoterapia em que o papel do psicoterapeuta é ajudar seu cliente a desenvolver por si e para si mesmo critérios e valores. Dessa forma, ele poderá desenvolver significados e sentido para a vida e, consequentemente, alívio para o sofrimento. Sendo assim, o papel do psicoterapeuta não poderia ser o de aconselhar, indicando as razões ou meios de resolver problemas. Seu papel deve ser, então, o de ajudar o cliente a entrar em contato consigo mesmo, com a sua intimidade. Isso é feito na medida em que o psicoterapeuta oferece um clima de aceitação e compreensão com o mínimo de influência externa ao cliente, que é favorecido para desenvolver critérios e valores próprios para se responsabilizar por si e, consequentemente, encontrar sentido e suporte frente ao sofrimento.

A Psicoterapia Centrada na Pessoa indica que a qualidade da relação entre psicoterapeuta e cliente é fundamental para a criação de um ambiente favorável e confiável que permita que o cliente se revele e se descubra. A percepção do cliente da capacidade e qualidade da aceitação e compreensão do psicoterapeuta em relação ao que ele revela indica até que grau de profundidade ele pode se revelar. Quanto mais profundas forem as revelações do cliente ao psicoterapeuta, mais ele descobrirá sobre si mesmo. As descobertas através dessas revelações formam uma nova autoavaliação no cliente, uma nova base de partida para conceber a si próprio no mundo com os outros. Então, a partir dessa nova base, mudanças emocionais e comportamentais são consequências naturais. Por fim, o cliente poderá construir uma resistência ou resiliência para enfrentar os sofrimentos inerentes à vida.

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